Cá estou eu no meu quarto, quando ouço vindo da rua uma voz de criança repetindo esse refrão: “Eu mato ela, eu mato ela, se tentar roubar meu marido, eu mato ela”. Num misto de surpresa, horror e curiosidade fui até a varanda. Olhava para a menina e pensava, quantas outras haveriam por ai afora sendo embaladas por aquela canção. Entrei e digitei no Google as frases que acabara de ouvir. Trata-se da música da banda “Black Style” de nome “Eu mato ela”. Com medo apertei o “play” do Youtube. Difícil foi ouvir até o final. Ao terminar, nem deu tempo eu me recuperar quando, automaticamente comecei a ler os comentários: “dahora”, “doreiiiiii”, “eu mato mesmo”, “massa, sou fã” e dezenas de outros, alguns irreproduzíveis.
Música é definida como forma de arte, combinação de sons e ritmos. Todas as civilizações possuem suas manifestações musicais. É inerente à humanidade. Música é expressão, comunicação, linguagem. Pode ter um apelo político, um protesto, uma critica ao sistema. Falar de amor, enfim. Música desperta sentimentos, aflora emoções. Sempre há uma trilha sonora que nos remeta a lugares, pessoas, acontecimentos. Tem sempre aquela canção que nos faz recordar fases de nossas vidas. Do ventre de nossas mães ao berço; com as canções de ninar, até nosso último leito, o caixão; com hinos fúnebres, a música nos acompanha. A vida definida por sons: das sete trombetas às harpas celestiais eternas.
Dai eu me pergunto: qual a ideologia de uma música com esse teor? Qual sua intenção? O que pretende esta música? Para mim é claro como à lua que esse conteúdo é um incentivo a violência, a agressividade e ao crime. A música em si exerce uma influência e poder sobre nós. Influi e interfere no nosso humor. Podendo nos levar à calma ou euforia, a alegria ou tristeza, paz ou inquietação, relaxamento ou euforia. Contribui com a formação da personalidade e do nosso aprendizado - Música é coisa muito séria.
Essa questão vai além da “Lei antibaixaria”. É preciso mais que um projeto de lei que impeça que verbas públicas sejam usadas para contratar ou patrocinar eventos de cantores ou grupos musicais com repertório que desvalorize a mulher, faça apologia às drogas e incentive a violência e o crime. Porque a disseminação da música continuará existindo por outros meios. O problema não é restringir aqui ou ali. A música exerce um poder muito grande devido a sua forma de propagação. Como se proteger de ondas sonoras? Como não consumir algo que estar no ar? Que adentra os ouvidos sem pedir licença. Somos tomados de reféns. E nos tornamos consumidores obrigados.
Nesse cenário, as pessoas mais vulneráveis são as crianças e jovens. Por estarem em fase de formação. Ainda que os pais e responsáveis tenham o cuidado de selecionar e lhes ofertar músicas adequadas dentro do âmbito doméstico. É impossível impedir que isto ocorra fora dele. E uma vez, dentro também, já que estamos cercados de sons o tempo todo sem ter como nos protegermos. Daí a necessidade de intervenção do Estado na indústria da música no sentido de filtrar letras com esse conteúdo maléfico que tanto influencia de forma negativa no comportamento de jovens e crianças. É inadmissível que esses “artistas” e produtores que visam apenas o lucro se prevaleçam do argumento de liberdade de expressão e continuem infectando a sociedade.
Texto: Lílian Pinho - Todos os direitos reservados ©
Imagens: Google Imagens - Sem autoria
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