Bom
dia, gente! Atchim! Acordei espirrando hoje, depois de muito tempo sem gripe,
crises alérgicas, sinusite, rinite, e outras “ites”...nem me lembrava mais como
era. Enfim, espero que não evolua. Contudo, fiz minha atividade, 1 hora de
caminhada, alongamento antes e depois. Hoje, eu trouxe para nosso cantinho um
pouquinho do universo da Cecília Meireles que foi uma poetisa, pintora,
professora e jornalista, nossa, brasileiríssima (Rio de Janeiro, 7 de novembro
de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964).
Detox (Suco Verde):
½ Cenoura
1
laranja
2
gelinhos de couve (Tem uma postagem ensinando como fazer)
Gengibre
1
colher de sobremesa rasa de açúcar mascavo
Café:
1
fatia de Xerém
1
pera assada com canela
1
castanha do Pará
Meu
café amargo
“Hoje
desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender”.
“Tenho
fases, como a lua: fases de ser sozinha, fases de ser só sua”.
Última entrevista com Cecília Meireles
A
escritora morreu alguns meses depois de ter concedido o depoimento ao
jornalista Pedro Bloch, em maio de 1964
“Tenho
um vício terrível” — me confessa Cecília Meireles, com ar de quem acumulou
setenta pecados capitais. “Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem
cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser
doença.” “Em pequena (eu era uma menina secreta, quieta, olhando muito as
coisas, sonhando) tive tremenda emoção quando descobri as cores em estado de
pureza, sentada num tapete persa. Caminhava por dentro das cores e inventava o
meu mundo. Depois, ao olhar o chão, a madeira, analisava os veios e via
florestas e lendas. Do mesmo jeito que via cores e florestas, depois olhei
gente. Há quem pense que meu isolamento, meu modo de estar só (quem sabe se é
porque descendo de gente da Ilha de São Miguel em que até se namora de uma ilha
pra outra?), é distância quando, na realidade, é a minha maneira de me deslumbrar
com as pessoas, analisar seus veios, suas florestas.”
Cecília
é carioca. Nasceu em novembro, dia de S. Florêncio (filha de Matilde e Carlos
Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil), em Haddock Lobo,
na Rua São Luís. Seriam quatro irmãos, mas nunca chegaram a ser dois sequer,
porque, mal nascia um, o outro já tinha morrido. Só ficou Cecília. Perdeu a mãe
com três anos e meio, tendo sido criada pela avó, Jacinta Garcia Benevides, da
Ilha de São Miguel, Açores, descendente de gente que andou do lado do Infante
D. Henrique. A ela dedica Cecília:
"Minha
primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos
Tive
medo de a enxugar: para não saberes que havia caído…
No
dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
Modelada
pela noite, pelas estrelas, pelas minhas mãos."
Cecília
Meireles: Minha primeira escola foi a Estácio de Sá, que depois passou a Escola
Normal, onde me formei. Olhando para trás me sinto uma criança extremamente
poética. Em casa de meu padrinho, Louzada, onde brincava, sempre silenciosa e
observando-a, via estátuas, pinturas, coleções de pequeninos, objetos e leques
em vitrinas, coisas que me levaram a fazer o “Inventário Lírico”.
"Eu
canto porque o instante existe
e a
minha vida está completa.
Não
sou alegre nem sou triste:
sou
poeta."
Cecília
Meireles: Vovó era uma criatura extraordinária. Extremamente religiosa, rezava
todos os dias. E eu perguntava: “Por quem você está rezando?” “Por todas as
pessoas que sofrem.” Era assim. Rezava mesmo pelos desconhecidos. A dignidade, a
elevação espiritual de minha avó influíram muito na minha maneira de sentir os
seres e a vida.
"Eu
não tinha este rosto de hoje,
assim
calmo, assim triste, assim magro,
nem
estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu
não tinha estas mãos sem força,
tão
paradas e frias e mortas;
eu
não tinha este coração que nem se mostra.
Eu
não dei por esta mudança,
tão
simples, tão certa, tão fácil:
Em
que espelho ficou perdida a minha face?"
Cecília
Meireles: Uma das coisas que mais me encantavam em minha vida de infância era o
eco que vivia em casa de minha avó. Eu vivia procurando o meu eco. Mas tinha
vergonha de perguntar. Recolhida, tímida, deslumbrada, me debruçava no mistério
das palavras e do mundo. Queria saber, mas tinha imenso pudor de confessar
minha ignorância.
"Nós
merecemos a morte,
porque
somos humanos
e a
guerra é feita pelas nossas mãos,
pelo
nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por
nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que
trazemos por dentro, e ficam sem explicação."
Cecília
Meireles: Terminada a Escola Normal, fui lecionar o primário, ainda com um
jeito de menina, num sobrado da Avenida Rio Branco. Ali, na mesma sala, havia
duas turmas e duas professoras, a metade voltada para cada lado. Pois as
crianças, vendo-me quase tão menina quanto elas, viraram quase todas para mim.
Sempre gostei muito de ensinar. Trabalhei na Escola Deodoro, ali junto ao
relógio da Glória. Fui professora de Literatura da Universidade do Distrito
Federal. Criei a primeira biblioteca infantil, ali onde era o Pavilhão
Mourisco. Criança que não tivesse onde ficar podia encontrar o livro que lhe
faltava, coleção de selos, moedas, jogos de mesa, sonhos, histórias e as
explicações de professoras prontas e atentas. Acabou, depois de quatro anos,
mas frutificou em São Paulo onde hoje existe até biblioteca infantil para
cegos. Também ensinei História do Teatro na Fundação Brasileira. O resto da
minha atividade didática está nas conferências em que sempre procuro transmitir
algo.
"Minhas
mãos ainda estão molhadas
do
azul das ondas entreabertas,
e a
cor que escorre de meus dedos
colore
as areias desertas."
Cecília
Meireles: Você sabe que eu tenho muito medo da literatura que é só literatura e
que não tenta comunicar?
"Ando
à procura de espaço
para
o desenho da vida.
Em
números me embaraço
e
perco sempre a medida.
Se
penso encontrar saída,
em
vez de abrir um compasso,
protejo-me
num abraço
e
gero uma despedida."
Cecília
Meireles: Vivo constantemente com fome de acertar. Sempre quase digo o que
quero. Para transmitir, preciso saber. Não posso arrancar tudo de mim mesma
sempre. Por isso leio, estudo. Cultura, para mim, é emoção sempre nova. Posso
passar anos sem pisar num cinema, mas não posso deixar de ler, deixar de ouvir
minha música (prefiro a medieval), deixar de estudar, hindi ou o hebraico,
compreende?
"Sei
que canto. E a canção é tudo.
Tem
sangue eterno a asa ritmada.
E um
dia sei que estarei mudo:
—
mais nada."
Cecília
Meireles: Casei com vinte anos. Tenho três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde
e Maria Fernanda. As três são bibliotecárias mas a minha biblioteca não está
fechada. Maria Fernanda você conhece como atriz, não é mesmo? As três têm em
comum uma bondade comovente mas são de temperamentos completamente diferentes.
Tenho cinco netos. Viúva, casei em 1940 com Heitor Grilo, um homem admirável
pela sua extraordinária fé no ser humano, em sua ânsia de tudo elevar. Basta
dizer a você que, nesta primeira e única doença que tive e que me segurou cinco
meses, ele não arredou pé, um momento de carinho, gesto e palavra prontos,
apesar de suas inúmeras responsabilidades e ocupações. Conheci-o quando fui
entrevistá-lo certa vez. Depois… nunca mais o entrevistei. Entendemo-nos até
calados.
"No
fio da respiração,
rola
a minha vida monótona,
rola
o peso do meu coração."
Cecília
Meireles: Estudei canto e violino. Abandonei. Era preciso ganhar a vida e
poesia se pode criar até numa viagem de bonde. Mesmo nas reuniões em que muita
gente discutia eu era capaz de me ausentar em meu mundo e construir. Aos poucos
pude criar a minha Ilha de Nanja, a São Miguel transfigurada pelo sonho. Acho
linda a continuidade humana através da poesia. Só viajo com a Bíblia. A Bíblia
é uma biblioteca. Tem tudo: história, poesia, religião. Já disse que, se
tivesse que escolher o meu livro para uma ilha deserta, levaria a Bíblia. Ou um
dicionário.
"Minha
esperança perdeu seu nome…
Fechei
meu sonho, para chamá-la.
A
tristeza transfigurou-me
como
o luar que entra numa sala."
Cecília
Meireles: Mas comigo aconteceu uma coisa deliciosa, deixe-lhe contar. Neste Natal
eu estava doente em São Paulo. Pois bem. Ao voltar para esta minha casa
(Cecília vive ao lado do bondinho que sobe pro Corcovado) encontrei cartões de
gente de todos os cantos do mundo que se lembrou de mim. De todas as raças e
religiões. Todos unidos pelo Natal. E o mais curioso é que eu olhava um cartão
e outro e dizia comigo mesma: “Fulano talvez não combine com Beltrano, mas eu
servi de elo entre os dois. A mim eles escreveram!” Me fez um bem enorme aquele
meu Natal atrasado!
"Na
quermesse da miséria,
fiz
tudo o que não devia:
se
os outros se riam, ficava séria;
se
ficavam sérios, me ria."
Cecília
Meireles: Se eu inventei palavras? Não. Isto nunca me preocupou. No inventar há
um certa dose de vaidade. “Inventei. É meu”. O que me fascina é a palavra que
descubro, uma palavra antiga abandonada e que já pertenceu a tanta gente que a
viveu e sofreu! No “Romanceiro do Rio de Janeiro”, que estou preparando para o
IV Centenário, procuro usar, em cada capítulo, a linguagem da época.
"Basta-me
um pequeno gesto,
feito
de longe e de leve,
para
que venhas comigo
e eu
para sempre te leve…"
Cecília
Meireles: Tenho amigos em toda parte. Mas sou feito o Drummond que é tão amigo
quase sem a presença física. Esse meu jeito esquivo é porque eu acho que cada
ser humano é sagrado, compreende? Eu sou uma criatura de longe. Não sei se me
querem mas eu quero bem a tanta gente! Sou amiga até dos mortos. Amiga de muita
gente que nem conheci. Você não imagina quanta gente eu levo ao meu lado. E
fico emocionada quando penso como uma criatura só recebe tanto de tantos lados,
de tantas pessoas, de tantas gerações!
"Como
tenho a testa sombria,
derrame
luz na minha testa.
Deixe
esta ruga, que me empresta
um
certo ar de sabedoria."
Cecília
Meireles: Tenho pena de ver uma palavra que morre. Me dá logo vontade de pô-la
viva de novo. “Solombra”, meu novo livro, é uma palavra que encontrei por acaso
e que é o nome antigo de sombra. Era o título que eu buscava e a palavra viveu
de novo.
"Que
procuras? Tudo. Que desejas? — Nada.
Viajo
sozinha com o meu coração.
Não
ando perdida, mas desencontrada.
Levo
o meu rumo na minha mão."
Cecília
Meireles: Cada lugar aonde chego é uma surpresa e uma maneira diferente de ver
os homens e coisas. Viajar para mim nunca foi turismo. Jamais tirei fotografia
de país exótico. Viagem é alongamento de horizonte humano. Na Índia foi onde me
senti mais dentro de meu mundo interior. As canções de Tagora, que tanta gente
canta como folclore, tudo na Índia me dá uma sensação de levitar. Note que não
visitei ali nem templos nem faquires. O impacto de Israel também foi muito
forte. De um lado, aqueles homens construindo, com entusiasmo e vibração, um
país em que brotam flores no deserto e cultura nas universidades. Por outro
lado, aquela humanidade que vem à tona pelas escavações. Ver sair aqueles
jarros, aqueles textos sagrados, o mundo dos profetas. Pisar onde pisou Isaías,
andar onde andou Jeremias … Visitar Nazaré, os lugares santos! A Holanda me faz
desconfiar de que devo ter parentes antigos flamengos. Em Amsterdã, passei
quinze dias sem dormir. Me dava a impressão de que não estava num mundo de
gente. Parecia que eu vivia dentro de gravuras. Quanto a Portugal, basta dizer
que minha avó falava como Camões. Foi ela quem me chamou a atenção para a
Índia, o Oriente: “Cata, cata, que é viagem da Índia”, dizia ela, em linguagem
náutica, creio, quando tinha pressa de algo, chá-da-Índia, narrativas, passado,
tudo me levava, ao mesmo tempo à Índia e a Portugal.
"Porque
a vida, a vida, a vida,
a
vida só é possível
reinventada."
Cecília
Meireles: A babá Pedrina me contava a história do Palácio de Louça Vermelha. Eu
achava que devia ser muito fresco viver num palácio assim e, em menina, já
estava pronta a transformar um jarro imenso que havia em casa em palácio,
quando, querendo escondê-lo de meus sonhos, de tanto procurarem lugar para
ocultá-lo, o partiram em mil pedaços.
"Traze-me
um pouco das sombras serenas
que
as nuvens transportam por cima do dia!
Um
pouco de sombra, apenas,
— vê
que nem te peço alegria."
Cecília
Meireles: Viagens, folclore e idiomas são uma espécie de constante em minha
vida. Comprei livros e discos de hebraico. Estudei hindi, sânscrito. O desejo
de ler Goethe no original me obrigou a estudar alemão. Não estudo idiomas para
falar, mas para melhor penetrar a alma dos povos.
Cecília
conhece uma meia dúzia de línguas mais.
Cecília
Meireles: Meus amigos, é curioso, ou vivem longe ou estão distantes. Minha casa
já é contramão. Gosto de estudar o que me dá conhecimento melhor das pessoas,
do mundo, da unidade. Por meio dos idiomas e do folclore, vejo até que ponto
somos todos filhos de Deus. A passagem do mundo mágico para o mundo lógico me
encanta.
"Eu
deixo aroma até nos meus espinhos
ao
longe, o vento vai falando de mim.
E
por perder-me é que vão me lembrando,
por
desfolhar-me é que não tenho fim."
Cecília
Meireles: Nunca esperei por momento algum na vida. Vou vivendo todos os
momentos da melhor maneira que posso. Quero realizar coisas, não para ser a
autora, mas para dar-me, para contribuir em benefício de alguém ou de alguma
coisa. Quando adoeci e tinha que repousar uma hora depois do almoço, ficava
calculando quanto poema deixava de escrever, quanta coisa linda deixava de ler
e conhecer naquelas horas perdidas. Mas aprendi também a renunciar. Não tenho
poema predileto. Ainda não o escrevi. A intenção é que é perfeita. Às vezes, um
poema viaja comigo muito tempo sem ser escrito. Se não lhe dou muita
importância, vai embora. Tenho muita pena dos poemas que não escrevo. E também
muita dos que escrevo.
"E
minha alma, sem luz nem tenda,
passa
errante, na noite má,
à
procura de quem me entenda
e de
quem me consolará…"
Cecília
Meireles: A juventude de hoje? Acho que são meninos que não têm tempo de
crescer. Saltam do apartamento fechado para a calçada de mil solicitações, sem
armadura, sem objetivo, sem a necessária religiosidade. A vida passa a ser uma
coisa zoológica. Muitos crescem zoologicamente. Inventam modas, mas como não
têm essência de verdade, as modas não pegam. As frustrações crescem. Felizmente
muitos se realizam apesar de tudo. Cada geração acredita que traz uma nova voz
e uma nova mensagem.
"Permite
que eu volte o meu rosto
para
um céu maior que este mundo,
e
aprenda a ser dócil no sonho
como
as estrelas no seu rumo."
Cecília
Meireles: A arte abstrata? Nós, pouco a pouco, vamos caminhando para o
subentendido, não é? A arte abstrata é uma alusão. Você constrói dentro de si.
Muita gente faz coisas com nomes concretos que geram um mundo abstrato e
vice-versa.
"Aquilo
que ontem cantava
já
não canta.
Morreu
de uma flor na boca:
não
do espinho na garganta."
Cecília
Meireles: Tenho, nos lugares mais diferentes, amigos à minha espera. Você já
reparou que, entre centenas, em cada país, nós temos sempre aquela pessoa, que,
sem mesmo saber, espera por nós e, quando nos encontra, é para sempre? Por isso
é que eu gosto tanto de viajar, visitar terras que ainda não vi e conhecer
aquele amigo desconhecido que nem sabe que eu existo, mas que é meu irmão antes
de o ser.
"Se
desmorono ou se edifico,
se
permaneço ou me desfaço,
—
não sei, não sei. Não sei se fico
ou
passo."
Cecília
Meireles: Educação, para mim; é botar, dentro do indivíduo, além do esqueleto
de ossos que já possui, uma estrutura de sentimentos, um esqueleto emocional. O
entendimento na base do amor.
Em
prosa Cecília dá lições de grandeza. Vejam como descreve o barquinho Elenita:
“parece uma nuvenzinha a correr por um espelho”. E o “Anjo da Noite”: “À noite
o mundo é bonito, como se não houvesse desacordos, aflições, ameaças. Há muitos
sonhos em cada casa. O gato volta apressado, com certo ar de culpa”. “Chuva com
Lembranças”: “Começaram a cair uns pingos de chuva. Tão leves e raros que nem
as borboletas ainda perceberam”. Outro: “Com estas florestas de arranha-céus
que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa de jardim
zoológico”.
Cecília
Meireles: Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta
do chalé brilhava um grande ovo de louça azul onde costumava pousar um pombo
branco. Nos dias límpidos o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava
essa ilusão maravilhosa e me sentia completamente feliz.
Mas
houve épocas em que a janela abria para um canal em que oscilava um barco
carregado de flores. Outras em que se abria para um terreiro, sobre uma cidade
de giz, para um jardim que parecia morto. Outras vezes abre a janela e encontra
um jasmineiro em flor, nuvens espessas ou crianças que vão para a escola,
pardais que pulam pelo muro, gatos, borboletas, marimbondos, um galo que canta,
um avião que passa. E Cecília se sente completamente feliz. E conclui: “Mas,
quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada
janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante
das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para
poder vê-las assim”.
Olho
para Cecília encolhida em sua poltrona, iluminando a penumbra do canto da sala.
Vejo-a tão menina olhando o solo e descobrindo na madeira floresta e lendas,
deslumbrada de azul! Uma ilha cercada de pontes por todos os lados. Pontes para
a ternura, pontes para a poesia, pontes para a alma de cada um. E olhando-a
assim, poesia ela mesma, tão alta e tão pura, percebo porque continua a ser a
garotinha à procura do eco, correndo por todos os cantos e por todos os
deslumbramentos, sem poder recolher o eco da própria voz: nós somos o seu eco,
cantamos o seu canto, sem que ela perceba; somos todos um pouco habitantes de
sua Ilha de Nanja “onde as crianças brincam com pedrinhas, areia, formigas”.
“Solombra”, a última obra de Cecília, quer dizer só sombra. Cecília, para nós.
é só luz.
Entrevista
publicada na revista “Manchete”, edição nº 630, em 16 de maio de 1964. E
posteriormente no livro “Pedro Bloch Entrevista”, Bloch Editores, em 1989.
Fonte:
Revista
Bula
achei o seu blog quando procurava uma receita ,fiquei muito feliz ao ler a entrevista da Cecilia Meireles ,na epoca do antigo ginasio (atual fundamental ) os professores de portugues recomendavam a leitura de texto de nossos escritores e poetas.Meus parabens pela sua iniciativa.
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